sábado, 12 de março de 2016

Fundamentalismo religioso: uma analogia à Inquisição

   Como consequência de uma interpretação fundamentalista de dogmas religiosos que causavam temor, aniquilavam ideias, reprimiam opiniões e garantiam os interesses de um clero cada vez mais voltado a valorização do ócio e obtenção de riquezas, a Idade Medieval trouxe como consequência a morte em fogueiras, as torturas inquisitórias e o temor a um Deus punitivo que cooptava seus fiéis em troca de milagres. O homem medieval semeou os primórdios do fundamentalismo, interpretando de forma extremista  dogmas religiosos  em seu benefício e distorcendo-os segundo a sua vontade. Assim, temos até os dias atuais religiões diversas que matam, trucidam e geram submissão em nome de Deus.
    É, importante que compreendamos que os fundamentalismos existentes hoje, revelados através de ações de barbárie de religiões  que realizam práticas de tortura, que submetem suas mulheres a práticas humilhantes ou que matam em nome de Deus revelam que a prática do fundamentalismo religioso está intimamente relacionada  a manutenção de tradições cristalizadas, políticas autoritárias e organizações culturais e socias  que definem papéis segregacionistas, beneficiando grupos ou minorias através da religião.
    Vale que ressaltemos que o fundamentalismo não está restrito ao mundo islâmico. Este, enraizou-se em diversas religiões e tem levado perda da essência dos princípios éticos, morais e espirituais não apenas dos líderes religiosos, mas de todos os membros membros da comunidade. 
   É necessário compreendermos que a essência da religião  não impõe subordinações a ideias extremistas que causam sofrimento ou morte. O surgimento atual de religiões cada vez mais opressoras está intimamente relacionado a interpretações de preceitos religiosos de acordo com a vontade dos que oprimem. Além disso, a união cada vez mais forte da religião com a política tem feito com que a primeira seja cada vez mais distorcida a fim de se adequar as necessidades e imposições que anseiam a vida política.
  Vale,portanto, que saibamos considerar e distinguir a opressão e as subordinações extremistas do respeito que temos a nossa religião. A obediência, o respeito e a subordinação aos princípios religiosos está intimamente relacionado a ética e a manuntenção dos  direitos humanos. 

Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra estas cousas não há lei. (Gl 5:22-23)





quarta-feira, 2 de março de 2016

Saída da menoridade

      Décadas de miséria, instabilidade política e econômica e de uma formação pautada na exploração de povos nativos causaram ao Brasil uma desigualdade explícita entre os cidadãos. A vivência em um desenvolvimento artificial marginaliza pequenos grupos e cria divisões socioespaciais explícitas desde o sertão brasileiro até as conhecidas metrópoles nacionais. Como sociedade, aceitamos os discursos políticos que garantem a superação da miséria brasileira. No entanto, em diversos semáforos da cidade são visíveis famílias que dependem de moedas para sua alimentação diária, e, assim, fica explícito que vivemos a sociedade das minorias que, hipocritamente, acreditam serem caridosas por darem moedas a algumas crianças. Vale compreendermos que as esmolas garantem a manumtenção das disparidades, a supressão dos direitos civis e a subordinação dos indivíduos a vontade e disponibilidade de outras pessoas.
   Faz-se necessário que salientemos que as esmolas seriam desnecessárias em uma sociedade que garante aos seus cidadãos políticas públicas eficazes. O acesso a moradia, a saúde, ao trabalho e aos direitos civis não devem ser caridade dos governantes, mas um direito inalienável, como previsto em nossa constituição. Viver em dependência de esmolas marginaliza os indivíduos, gera instabilidade social, na medida em que cria parasitas sócias, e fere o principal pilar democrático, a liberdade dos indivíduos sobre suas ações. Vale ressaltar que a esmola transmite ao estado a ideia de que não são necessárias mudanças ou geração de empregos e faz com que a condição de indigência não seja superada. A caridade, neste sentido, precisa se realizar em ações reinvindicatórias junto aos governantes em prol dos direitos civis dos cidadãos que foram esquecidos em decorrência do caus moral em se emergiu nossa sociedade.
     É importante que ressaltemos que indiretamente contribuímos para a exploração infantil e para a manuntenção de vícios degradantes através das esmolas. São notórias as variadas vezes que crianças são obrigadas a pedirem esmolas para dar aos seus pais ou dependentes químicos que pedem para a manuntenção de vícios. Assim, o aumento alarmante de áreas de consumo de crack pela cidade ocasiona mais um problema, o de saúde pública, que de forma ineficaz não recebe intervenções do estado. É válido salientar que em uma sociedade pautada no egocêntrismo e na supervalorização dos interesses individuais a caridade é sim de extrema importância. Esta precisa ser realizada,no entanto, através de medidas eficazes que não proporcionem comodidade mediante aos problemas sociais e nem mesmo conformidade em relação as extremas e visíveis disparidades do nosso pais. A doação de cestas básicas, roupas de frio, a criação de centros comunitários ou a geração de empregos a famílias carentes são medidas eficazes que somadas as reinvindicações dos direitos sociais será notoriamente mais efiacaz que as esmolas.
     A saúda da menoridade proposta pelo filósofo moderno Immanuel Kant seria, portanto, a alternativa viável para que como sociedade entendamos os malefícios causados pelas espórtulas. Kant sugere que o esclarecimento de um indivíduo é atingido quando este não depende de outro. Assim, podemos concomitar  essa ideia com o fato de que as esmolas criam indivíduos sujeitados as ideias dos outros, sem elas e com a criação de políticas públicas eficazes, teríamos por fim indivíduos autônomos tornando válido o ideal democrático de liberdade dos indivíduos, afirmado  por governantes e estados, mas que na prática não é vivido por grande parte dos brasileiros.