segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Quebramos os protocólos?

"Se quiser que algo seja dito, chame um homem. Se quiser que algo seja feito, chame uma mulher." - Margareth Tatcher.
      A frase citada exemplifica de forma clara o que vem ocorrendo em nossa sociedade. Diariamente, avistamos mais mulheres dirigindo veículos, lutando por seus direitos e reinvindicando autonomia sobre suas decisões. A mulher contemporânea abandonou claramente as restrições do campo doméstico e, a cada dia, torna-se mais essencial para a sociedade. A esfera feminina compreendeu que além das janelas de sua cozinha existe uma sociedade e, mais do que nunca, a sociedade passou a compreender  quão essencial é a participação feminina.
   Apesar da sua grande imersão na esfera política, econômica , ideológica ou social a mulher ainda continua vivendo algumas disparidades. Ao mesmo tempo em que algumas conquistaram grande prestígio social, outras continuam sofrendo com a violência doméstica. Além disso ,a banalização moral, o assédio  e os casos de violência sexual ainda são bem evidentes em diversas partes do país, em que mulheres são submetidas a abusos análogos ao tempo em que muitas inocentes eram mortas em fogueiras ou como  em um Brasil não muito distante do atual, em que muitas eram submetidas a casamentos forçados e tratadas como moedas de troca de bens e riquezas.
    Vale ressaltar que tradições patriarcais cristalizadas , que sempre trataram a mulher como o segundo sexo, transformaram-se hoje em esteriótipos que denunciam o preconceito à mulher através de baixos salários ou da valorização do trabalho manual feminino que impede que muitas comandem empresas, administrem  seus próprios negócios ou gerenciem as atividades tradicionalmente realizadas pelos homens.
     É necessário compreendermos que diferente de como ocorria na Idade Média, a mulher tem o direito de decisão e possui, como cidadã, direito de igualdade. Práticas como a mutilação genital feminina, o estupro e o apedrejamento, apesar de abomináveis, ainda hoje, continuam ocorrendo. É importante que não generalizemos o fato de que  se algumas mulheres conquistaram seus direitos, ocorreu um avanço generalizado de todas as mulheres. Faz-se essencial que não admiremos o fato de que as americanas ou europeias são  amplamente atuantes e contribuintes na sociedade , enquanto ao redor do mundo muitas mulheres ainda são transformadas em escravas sexuais ou são vendidas aos 12 anos de idade a famílias que as submetem a trabalhos análogos a escravidão. 
     Uma alternativa eficaz a emancipação femina começa com hospitais que ofereçam partos de qualidade, exames de rotina eficazes e disponibilidade de tratamentos ao câncer de mama, que afeta uma quantidade expressiva de mulheres que não possuem acesso a tratamentos básicos por ineficácia de políticas públicas. Além disso, é primordial que salários não sejam diferenciador por gênero, mas por capacitação profissional, fazendo com que as horas a mais que muitas mulheres passam em salas de aula não sejam desqualificadas apenas por serem mulheres. Vale ressaltar que não se trata de expor feminismos ou o levante de  bandeira por uma causa. Exigir o respeito à mulher significa a mais nobre  demonstração de respeito e solidariedade a diversas mulheres que são vítimas diárias de um machismo que é capaz de violentar, humilhar e até mesmo matar em decorrência de uma ideologia repassada de geração em geração de que o segundo sexo pode ser dominado, manipulado e humilhado sem que punições eficazes sejam, de fato, realizadas. 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Desonesto,eu!?

É bem verdade que acostumamo-nos a viver em um país onde "furar" filas, sonegar impostos ou até mesmo pegar emprestado e não devolver viraram ações rotineiras, banais e sem importância. Como colonizados, constantemente, julgamos a postura desonesta de Portugal ao enganar nossos índios com quinquilharias em troca de nossas matas, riquezas e mananciais. Contudo, acostumamo-nos a ouvir promessas de campanha ou projetos futuros que prometem vida digna, salários melhores, fim do caus do mêtro e melhoria do sitema de saúde. Guardadas as proporções, promessas e projetos que com o tempo tornam-se quinquilharias. Exemplificando, notoriamente, a desonestidade histórica a qual estamos submetidos. 
É necessário, como sociedade, compreendermos que ao praticarmos a desonestidade  afetamos a vivência em coletividade e favorecemos uma ruptura com os princípios éticos que regem o bem estar social. É conveniente que saibamos que para se viver bem na pólis não podemos ser honestos apenas quando nos convém ou quando estamos sendo observados pelo outro. 
Sobre o "jeitinho brasileiro", cabe salientar que esse esteriótipo cristalizou-se na cultura brasileira e serve, ainda hoje, como uma desculpa - considerada por muitos plausível-  para que sejamos desonestos, atrasados em nossos compromissos e para que realizemos nossas atividades em última hora, sem capricho, organização e, principalmente, qualidade. O presente que recebemos do Walt Disney há alguns anos, o emblemático Zeca Carioca, reforça o orgulho que temos de sermos considerados o povo "malandro", que faz de última hora e dá certo e  que quer estar sempre à frente do outro. Infringimos as leis de trânsito porque todos as infringem e estacionamos nossos carros em locais proibidos porque todos também estacionam. Desta forma, visamos o outro e suas atitudes como justificativa para nossas imoralidades.
Enxergar o mundo de maneira unilateral, individualista ou egocêntrica, por vezes, nos faz acreditar que as nossas atitudes não são combustíveis para os problemas que existem em nosso país. É necessário que não tenhamos apenas políticos éticos e úteis (afinal isso não é necessário, é essencial!!!) é necessário também sermos cidadãos que não distinguem pequenas ou grandes corrupções. Furar a fila do banco ou roubar dinheiro público, guardadas suas proporções, são frutos de desonestidade e de desrespeito para com o outro. Assim, tornou-se extremamente difícil para os nossos governantes receber nossos impostos e realizar moradias dignas, tirar do papel projetos que levem água para o sertão e desenvolver saneamento básico em diversas partes do país.
Mesmo que a princípio pareça banal, uma alternativa viável para vivermos melhor como sociedade e indivíduos é pararmos de acreditar que a honestidade restringi-se a votar em candidatos de ficha limpa. Tal atitude é básica é primordial. Ainda mais útil que esta está a prática da honestidade diária, em nossas relações com amigos, vizinhos, familiares e desconhecidos. 
Quando nos inquietarmos não apenas com os exorbitantes impostos que pagamos, mas com crianças que estão na quinta série e ainda não sabem ler ou pais que montam barracas na porta das escolas  para conseguirem  uma vaga para seus filhos estudarem e quando ficarmos perplexos com a falta de macas e algodões nos hospitais ao redor do Brasil, compreenderemos que a desonestidade não se restringe a "passar a perna" no outro, compreendermos que esta nos remete a descivilizacao, na medida em que perdemos o instinto de união e respeito para com o próximo e retrocedermos a barbárie, momento em que o "cada um por si e Deus por todos "era bem eficiente! 
 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Virtude, ética e humanização: avançamos ou retrocedemos?

   Bem como afirma Tomas Hobbes: "O homem é o lobo do próprio homem." Como indivíduos, passamos a viver em uma sociedade em que tornou-se extremamente difícil encontrarmos as nossas virtudes e as virtudes dos que conosco convivem. A ética, a integridade e a moralidade, viraram apenas conceitos e suas  práticas cada vez mais escassas. Aceitamos e aprovamos a ideia de que a corrupção no conselho de ética do nosso país é inevitável, e nada podemos fazer para mudar tal realidade. Como sociedade, mentimos, ocultamos, censuramos, espionamos e ferimos as liberdades individuais. Modificar tal realidade, requer mais do que discursos vazios ou a criação de novas leis e conceitos protetores, requer que as ideias positivas de cidadania e ética tornem-se ações práticas do nosso dia-a-dia.
  Vivemos, notoriamente,uma disparidade em nossas relações sociais, produtivas e desenvolvimentistas. Ao mesmo tempo em que modernizamos nossa tecnologia e evoluímos nossas formas de produção, retrocedemos nossa consciência, nossa maneira de pensar, de agir com moralidade e de viver em coletividade. Alienados as ideias absorvidas pela Indústria Cultural, passamos horas utilizando nossos mais modernos smartphones  mas, muitas vezes, somos incapazes de exercitarmos nossas virtudes éticas para minimizar as disparidades e desigualdades sociais.
   Podemos compreender que as virtudes e qualidades essências do homem com o tempo tornaram-se rasas e superficiais. O medo de estar ultrapassado e a vontade de ser melhor do que o outro, levou-nos a retroceder ao nosso estado descivilizado. Sem ética, sem moral e sem consciência coletiva criamos conceitos como o "hacker ético" que invade a privacidade e fere as liberdades democráticas em justificativas benéficas à sociedade. Criamos sites que vazam documentos e criticam a falta de liberdade individual, contudo, com falta de ética, esquecemo-nos que "vazar", propagar e difundir algo que é sigiloso já fere o direito à liberdade e privacidade.
   Como sociedade, precisamos mudar a realidade em que o "ter" está acima do "ser". Não podemos acreditar que a virtú, a essência e a ética sejam apenas conceitos que lemos nos livros de filosofia. Não basta apenas que admiremos Platão, que exaltemos Sócrates ou que veneremos Maquiavel. É necessário que além de conhecermos seus pensamentos, exercitemos suas boas lições de convivência e consciência social. Agir em ausência das boas virtudes traz como consequência um retrocesso que ,gradativamente,torna-se insuperável aos seres humanos.
   Entender que aquilo que queremos é aquilo que podemos ou devemos ter é o passo inicial para o sucesso das nossas ações. Se mudássemos talvez nossas prioridades egocêntricas  e individualistas acharíamos mais inconcebível o ferimento dos ideais democráticos, crianças, ainda hoje, morrerem por giardíase devido à falta de saneamento básico em diversas partes do país e a destruição de um patrimônio histórico-cultural da nação,, como no caso do Rio Doce,por ineficácia de fiscalização efetiva às  mineradoras. Quando não apenas criticarmos estes fatos, mas não nos acomodarmos perante eles, seremos, por consequência, mais virtuosos, mais éticos  e, principalmente, mais humanos. 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Consumismo: necessidade ou felicidade?

"Está triste? Faça compras!", "Brigou com a namorada? Compre sapatos. Elas adoram!" "O filhão tirou 10 no teste? Ele merece o novo lançamento da Nike, não é mesmo?."
É assim que vivemos atualmente. Nossos sentimentos passaram a ser facilmente substituídos por prazeres momentâneos. Substituímos nossas fraquezas, tristezas, derrotas e frustações por bens materiais que nunca nos satisfazem, mas geram ao outro uma vontade enorme de estar ao nosso lado. Criamos datas comemorativas e damos presentes. A economia do país alavanca, mas esquecemo-nos das frases gratuitas: "Eu te amo" e "Você é especial para mim".
Equivocadamente, misturamos o ter com o ser. Passamos a entender que a felicidade é o consumir, estar na moda, possuir carros luxuosos e ter em mãos os últimos avanços tecnológicos. Vivemos então em dias em que as pessoas nos amam apenas até o nosso último conto de rés, como afirma o nosso famoso egocêntrico Brás Cubas, personagem machadiano. 
Contudo, precisamos entender que o frenético consumismo nos geram apenas prazeres momentâneos, intensificação das disparidades sociais e efêmeras alegrias.
É claro e notório que o consumismo desenfreado gera ótimos resultados à economia do país. De forma alguma os beneficiados barrariam tal vantagem. Por outro lado, conceitos como consumo sustentável e economia verde foram criados para aliviar a consciência dos consumidores e minimizar timidamente os problemas gerados. O consumismo gera danos individuais a quem por ele é escravizado. Seu prazer momentâneo, com o passar do tempo, gera o retorno das angústias e aflições; e qcompanhado destas surgem também as dívidas e os abalos psicológicos.
É necessário entendermos que o consumo é sim necessário. O desnecessário e maléfico ao indivíduo é a necessidade insaciável de ser como os outros, de possuir como os outros e viver como os outros. Os contrastes entre os que disperdiçam alimentos e roupas e aqueles que vivem com menos de um dólar diário virou algo bem comum. O raio gourmetizador encareceu os produtos e fez das varandas dos novos apartamentos que surgem freneticamente nas grandes cidades uma vitrine de uma população que quer exibir o que tem e consome, e que de suas corbeturas não avistam mais as disparidades da cidade. Timidamente,  aceitamos a dar esmolas nos semáforos enquanto vamos ao shopping dar uma voltinha, mas sair com sacolas e sacolas recheadas de "alegria".
Mudar tal realidade vai muito além de adotarmos uma vida alternativa ou apelar para o "fugere urbem" dos árcades. Iniciarmos talvez uma mentalidade que não opina de acordo com as leis de mercado seria uma boa alternativa. 
Bem como nossas roupas, nossos carros e nossos sapatos, nossa vida, nossos amigos e nossa família não duram para sempre. Tratá-los como liquidação não é apenas fruto do egocentrismo das sociedades modernas é a continuidade do espírito de escambo a qual desde sempre fomos expostos.