quarta-feira, 2 de março de 2016

Saída da menoridade

      Décadas de miséria, instabilidade política e econômica e de uma formação pautada na exploração de povos nativos causaram ao Brasil uma desigualdade explícita entre os cidadãos. A vivência em um desenvolvimento artificial marginaliza pequenos grupos e cria divisões socioespaciais explícitas desde o sertão brasileiro até as conhecidas metrópoles nacionais. Como sociedade, aceitamos os discursos políticos que garantem a superação da miséria brasileira. No entanto, em diversos semáforos da cidade são visíveis famílias que dependem de moedas para sua alimentação diária, e, assim, fica explícito que vivemos a sociedade das minorias que, hipocritamente, acreditam serem caridosas por darem moedas a algumas crianças. Vale compreendermos que as esmolas garantem a manumtenção das disparidades, a supressão dos direitos civis e a subordinação dos indivíduos a vontade e disponibilidade de outras pessoas.
   Faz-se necessário que salientemos que as esmolas seriam desnecessárias em uma sociedade que garante aos seus cidadãos políticas públicas eficazes. O acesso a moradia, a saúde, ao trabalho e aos direitos civis não devem ser caridade dos governantes, mas um direito inalienável, como previsto em nossa constituição. Viver em dependência de esmolas marginaliza os indivíduos, gera instabilidade social, na medida em que cria parasitas sócias, e fere o principal pilar democrático, a liberdade dos indivíduos sobre suas ações. Vale ressaltar que a esmola transmite ao estado a ideia de que não são necessárias mudanças ou geração de empregos e faz com que a condição de indigência não seja superada. A caridade, neste sentido, precisa se realizar em ações reinvindicatórias junto aos governantes em prol dos direitos civis dos cidadãos que foram esquecidos em decorrência do caus moral em se emergiu nossa sociedade.
     É importante que ressaltemos que indiretamente contribuímos para a exploração infantil e para a manuntenção de vícios degradantes através das esmolas. São notórias as variadas vezes que crianças são obrigadas a pedirem esmolas para dar aos seus pais ou dependentes químicos que pedem para a manuntenção de vícios. Assim, o aumento alarmante de áreas de consumo de crack pela cidade ocasiona mais um problema, o de saúde pública, que de forma ineficaz não recebe intervenções do estado. É válido salientar que em uma sociedade pautada no egocêntrismo e na supervalorização dos interesses individuais a caridade é sim de extrema importância. Esta precisa ser realizada,no entanto, através de medidas eficazes que não proporcionem comodidade mediante aos problemas sociais e nem mesmo conformidade em relação as extremas e visíveis disparidades do nosso pais. A doação de cestas básicas, roupas de frio, a criação de centros comunitários ou a geração de empregos a famílias carentes são medidas eficazes que somadas as reinvindicações dos direitos sociais será notoriamente mais efiacaz que as esmolas.
     A saúda da menoridade proposta pelo filósofo moderno Immanuel Kant seria, portanto, a alternativa viável para que como sociedade entendamos os malefícios causados pelas espórtulas. Kant sugere que o esclarecimento de um indivíduo é atingido quando este não depende de outro. Assim, podemos concomitar  essa ideia com o fato de que as esmolas criam indivíduos sujeitados as ideias dos outros, sem elas e com a criação de políticas públicas eficazes, teríamos por fim indivíduos autônomos tornando válido o ideal democrático de liberdade dos indivíduos, afirmado  por governantes e estados, mas que na prática não é vivido por grande parte dos brasileiros. 

5 comentários:

  1. Texto com muita propriedade e verdadeiro. Parabéns.

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  2. Olá.

    Entendo que o estado de miséria acontece por muitos fatores. É culpa de governos maus, que não cumprem o seu papel de zelar pelo bem-estar da população. É culpa do cidadão preguiçoso, que não gosta de pensar, estudar, trabalhar. É gerada por catástrofes na natureza.

    Assim sendo, quando possível for ajudar alguém necessitado, que além do prato de comida, da roupa e do calor humano, possamos antes analisar a situação que levou a pessoa a mendicância.

    Certa vez, eu estava em um fila esperando a condução para voltar para minha casa após um dia de verão quente e trabalho difícil, e uma jovem com aparência de uns 25 anos, usando trajes razoavelmente limpos, cabelos castanhos e pele clara, aproximou-se das pessoas perfiladas pedindo dinheiro. Alguns minutos antes havia recebido autorização para indicar uma pessoa do sexo feminino e dentro da faixa etária daquela jovem para uma vaga de serviço. “Um real, por favor!” Olhei fixamente nos olhos dela e respondi: “Tenho para você uma porta aberta de trabalho honesto...”. Não consegui terminar a frase, ela virou-se e se afastou da fila, inclusive deixando de pedir dinheiro para as pessoas que estavam atrás de mim. Todos que ouviram eu dizer a proposta se manifestarem, uns não esconderam a indignação e proferindo palavreados chulos contra aquela mendiga, outros gargalharam demais e criticaram a questão dos salários baixos, dizendo que esmolas rendem mais do que passar horas como funcionário dentro de uma empresa.

    Abraço.

    E.A.G.
    http;//belverede.blogspot.com.br

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  3. Concordo em parte com o Eliseu. O que vemos são frutos de árvores doentes...
    A tendência é piorar....o que não tem nada, nada tem a oferecer...
    Crianças e jovens "preguiçosos", sem criatividade, sem vontade de SER, são frutos de famílias que não sabem estimular seus filhos positivamente, para que sejam bons leitores, criativos e firmes.

    Parabéns Samara!

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